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Batuque do Rio Grande do Sul – uma religião de orixás

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Texto de autoria de Alexandre Honorato Custódio:

“Batuque é uma forma genérica de denominar as religiões afro-brasileiras de culto aos Orixás, encontrada principalmente no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, de onde sua diáspora se estendeu para outros estados e países vizinhos tais como Uruguai e Argentina.O batuque é fruto cremos que dos povos oriundos África de regiões onde hoje se situam Nigéria e o Benim. Aqui sendo adotado por povos que chegaram oriundos de outras regiões onde hoje se situam a Costa da Guiné.

Divindades:

O culto, no Batuque, é feito exclusivamente aos orixás, sendo o Bará(Exu) o primeiro a ser homenageado antes de qualquer outro pois este é o orixá da comunicação, e encontra-se seu assentamento em todos os terreiros. Os principais orixás cultuados são: Bará, Ogum, Oiá-Iansã, Xangô, Ibeji (que tem seu ritual ligado ao culto de Xangô e Oxum), Odé, Otim, Oba, Osanha, Xapanã, Oxum, Iemanjá, Nanã, Oxalá e Orunmilá (ligado ao culto de Oxalá). E há também divindades que nem todas nações cultuam como: Gama (ligada ao culto de Xapanã), Zína, Zambirá e Xanguín (qualidade rara de Bará). Apesar de considerarem muitas divindades Voduns, sabemos que os Ioruba já vieram cultuando estes Vodun que atualmente se encontram no Batuque como Orixás, assim como Johson registra em seu livro “The History of the Yorubas” pub em 1895, que Xapana e outras divindades Vodun já eram cultuadas por eles.

O Batuque possui centenas de casas e inúmeros praticantes e adeptos.

O Batuque Possui:

– Rituais próprios para feitura e desligamento.
– Jogo Próprio.
– Cozinha ritualística própria adaptando o que temos no Sul como oferendas as divindade.
– Assentamentos, Paramentação e ferramentas próprias para cada divindade.
– Orins próprias.
– Disposição dos Orixás dentro do quarto de santo
– Divindades que são cultuadas dentro do templo e fora dele

Em comum em todas as tradições do batuque vemos:

– Xangô (Rei em quase todos as Tradições): Rei de Oyo. Oyo nós dias de hoje, Cidade Na Nigéria onde o Alafin líder religioso e político acredita-se ser descendente direto. O que não quer dizer que o batuque possui ligação com a religião praticada lá.
– Kassum (Balança): Mesmo nos lados onde Xangô não é o rei a balança é feita entre suas orins (cantigas/rezas) sendo ele quem deve julgar a Obrigação.
– Rituais (oribibo, bori, etc.): guardando as diferenças em todos os lados seguem mais ou menos os mesmos passos.
– Orins (Rezas cantigas, chamadas de rezas por alguns adeptos, mas não são rezas, são apenas cantigas): Praticamente as mesmas, guardando também algumas diferenças.
– Sequencia Toque: Praticamente as mesmas, guardando também algumas diferenças.

A de se fazer um adendo para o Oyo Ibomina onde a uma diferença maior quando a sequência em que os orixás são dispostos no toque. Bom, os povos que aportaram no Rio Grande do Sul vindos das regiões citadas acima não desceram aqui com um culto formado mais fica claro que o panteão Ioruba é o panteão adotado pelo batuque para a formatação culto.

As diferencas existem sim mas não tão marcantes para caracterizar cada tradição como uma nação religiosa. Como vemos no candomblé como Ketu (Orixá), Angola (Inkisis) e Jeje (Vodun) quanto as divindades cultuadas . Nossas diferenças são mais de cunho familiar (qualidades diferentes de Orixás, métodos adotados na feitura, sequencia como são saudadas as Divindades(Orixás) etc..).

Deixando claro que no Sul não existe somente o batuque temos outras formas de culto para outras divindades como Os Voduns, Inkisis etc. Que também são divindades africanas mais pertencem a outro panteão que não o Ioruba e possuem ritos e oferendas próprias.”

Erick Wolff sobre “Nações”

“Nos diversos segmentos religiosos afro-brasileiros todos querem legitimar-se afirmando que sua “nação” é originalmente oriunda de solo africano, desta ou aquela região, iniciado por fulano ou ciclano cujo nome jamais poderá ser checado, supostamente nascido na África. É louvável o desejo da legitimização africana, se não fosse ilusório.

Todas as nações religiosas afro-brasileiras, de todos os segmentos, nasceram no Brasil, são afro-brasileiras, não são africanas, não representam nenhum Estado ou Cidade africana, não praticam nenhum culto na forma tradicional africana mesmo que possuam nomes de cidades africanas em suas definições afro-sociais. É verdade que foram formadas por elementos de matrizes africanas aqui repensadas e reestruturadas, mas estas heranças culturais e religiosas não fazem de nenhuma nação de religião afro-brasileira uma nação pura africana…

…A nação afro-brasileira de Kétu refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, e não à cidade ioruba africana de Kétu, localizada no Dahome. (José Beniste)…A nação afro-brasileira Angola refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, e não ao país africano de Angola….A nação afro-brasileira Jeje refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, batuque ou tambor de mina. Segundo o professor Reginaldo Prandi (USP), não existe nenhuma nação política denominada “jeje” em solo africano. O mesmo vale para a nação religiosa afro-brasileira “nagô”…

…A nação religiosa afro-brasileira kambina, do batuque, refere-se a uma nação religiosa criada e estrutura aqui no Brasil, tanto quanto as outras, e não à alguma cidade ou nação na África. Se as outras aqui formadas são legítimas para o Brasil, a kambina também é. Alguns sacerdotes tentam equivocadamente afirmar que a kambina trata-se de Cabinda, província de Angola, apenas pela semelhança do nome”.

Comentário de Hùngbónò Charles:

Nota-se pelo esclarecimento do autor, que ao nos referirmos à religião denominada Batuque do Rio Grande do Sul, estamos falando de uma religião onde a cultura yorubá e culto de suas divindades – Os Orixás – são a base e a estrutura da mesma, com alguma ou outra influência dos denominanos “jejis” e/ou de suas divindades voduns. Analisamos diversas subdivisões dentro do Batuque do RS, denominadas Kanbina (muitos consideram Cabinda, no entanto não há evidências de sua procedência com a região de Cabinda no continente africano, nem mesmo cultuam divindades bantu), Oyó (e Oyó Igbomina), Jeje (cultua igualmente Orixás, atribuida esta raiz a Custódio Joaquim de Almeida, o qual se acredita ser o príncipe do antigo Reino de Benin, no entanto há divergências históricas quanto a esta figura; vide https://ocandomble.com/2016/02/01/o-principe-custodio-de-xapanasakpata-erupe-e-seu-culto-nago/ , Ijexá e Nago;

A ocupação ou manifestação do orixá é tida como tabu e não deve ser comentada.

No Batuque não existem divisões de cargo tal como existe no Candomblé, no entanto há uma hierarquia que segue:

Babalorixá e Iyalorixá – respectivamente o Pai e a Mãe de Santo; muito embora alguns sacerdotes atuais usem nomenclaturas como Voduno ou Gayaku, tais nomenclaturas não fazem parte nem são utilizadas de maneira correta para se referir aos cargos sacerdotais do Batuque;

Alagbé – é aquele que toca e canta os orins;

Pronto com faca e búzio – é aquele que já é mais velho e já passou por todas as obrigações, análogo ao Egbomi do candomblé;

Pronto – Já passou pelas obrigações, no entando ainda não ganhou direito à faca nem aos búzios;

Borido – aquele que realizou apenas o Borí;

“Cabeça-lavada” – é a pessoa que passou apenas pelo Omieró, o ato de lavar a cabeça com ervas;

A Festa do Batuque

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Após as obrigações cumpridas e encerrada a Levantação (nome dado ao término das obrigações pois como diz a palavra, será levantado todas as frentes que ficaram em um determinado tempo dentro do Quarto-de-Santo), será tocada a Festa, o Batuque.

Normalmente como em uma festa social, muitos convites foram distribuídos para outras Casas de Religião, fiéis e até mesmo curiosos.

O Pai ou Mãe-de-Santo, ajoelhado em frente ao Quarto-de-Santo (lugar onde fica os assentamentos dos orixás), juntamente com todos seus filhos e demais convidados de Religião, tocando a sineta, faz a chamada de todos os Orixás de Bará a Oxalá com suas saudações específicas, pedindo a cada Orixá as coisas que a eles competem. Terminada a chamada, o Pai-de-Santo autoriza o tamboreiro a começar o toque, que correrá em ordem de Bará a Oxalá. Todos que estão na roda dançam com as características de cada Orixá ao qual está sendo tocada a reza, como por exemplo na reza do Bará, todos dançam como se abrindo portas com uma chave em punho na mão direita, já que este Orixá é o dono da chave e abertura dos caminhos, na Reza do Ogum, os fiéis dançam com a mão direita como uma espada tocando a mão esquerda.

A Mesa de Ibejis

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